Eu me lembro de ter começado 2020 cheio de planos, me lembro da expectativa que dizia: “Esse vai ser o meu ano”, mas a realidade foi: “que ano de merda”. Mas assim, entre trancos e barrancos sobrevivemos, pagamos as contas e surtamos dia sim e dia também. Aliás para mim essa expressão “novo normal” se refere a minha saúde mental.
Nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginei que viveria em uma pandemia mundial. Eu estava preparado para uma invasão alienígena e sei tudo que tenho que fazer para me proteger de uma infestação de zumbis, mas eu não sabia nada sobre ensino remoto e quanto menos sabia como lavar legumes da maneira correta. Mas a gente aprende e se adapta para ficar em casa, a gente se frustra com os parquinhos fechados e foge dos shoppings abertos.
Mas já acabou e eu acho que a gente só vai se lembrar desse ano com muita raiva! Raiva das reuniões on-line que podiam ser um e-mail, raiva da compra de mercado que veio errada no app de entrega, raiva da galinha pintadinha e muita raiva dos dias de chuva, pois eles fizeram nossas crianças ficarem com olhar triste e perdido, pois contando com esse dia já são 3 dias seguidos que eles não colocam o pé pra fora de casa, nem pra dar uma voltinha no quarteirão.
A gente tentou fazer exercícios em casa, meditação, instalou jogo de dança, fez origami, cozinhou junto e tentou ver 2020 com uma grande chance de aproximação das pessoas da nossa casa. Namaste virou Namastreta e agora a gente tá putasso rezando para a vacina chegar logo lá no postinho, pois tivemos um natal sem abraços e não rolou ter 7 ondinhas que façam a gente esquecer das crises de ansiedade, da falta de concentração e insônia que fomos obrigados a conviver.
Como pai, eu terminei 2020 frustrado, agradecido por estar aqui, mas chateado pelo ano perdido na pequena vida de minhas crias. Me acalma pensar que eles não vão lembrar tanto disso como nós vamos, mas se 2021 for mais leve, com menos riscos de passar meus dias entubado ou lutando por um leito. Então minhas metas serão: aproveitar o dia, aproveitar a vida e o sol, abraçar quem eu amo e não moram no mesmo teto que eu, pois só a troca de olhar e o acalanto de mãos dadas irão me fazer esquecer esse ano infinito.
Bora 2021, vem vacina!
Shamil Carlos é pai do Valentim e da Lola, companheiro da Priscila. “Correria total” na Mamahood e StayFreeBr. Vocalista do Horace Green, artista e colecionador de discos.
Categorias: Memórias sendo vividas