Petria Chaves

A maternidade como experiência e transformação do real

Estou num café. Minha filha está na aula de inglês. Ela tem apenas três anos. Eu, 35. Peço um café carioca (nome dado em São Paulo para café bem fraquinho). Pego um brigadeiro. E respiro… Faz sol. Sento para escrever essa coluna e sinto prazer. Sinto prazer por estar viva. Por estar em meu corpo. Por estar feliz. Mesmo vivendo na privação de sono que vem com a maternidade. Mesmo tentando há três meses voltar para o esporte, que amo. Mas nem sempre consigo. Porque são muitas noites sem repor o sono. E nada pode ser pior que viver com sono. Esqueci de dizer: tem um pequeno de seis meses em casa. Ele acabou de nascer. E já são tantas coisas novas que ele me trouxe.

Sou paulistana. Típica. Tenho sotaque, gosto de café, sou jornalista. Amo cuidar da minha casa. Amo ser mãe, mas não gostei de ficar grávida. Viver todas as transformações em meu corpo me tirou muita energia. Mas honro cada reflexão que essa transformação me trouxe. É sobre isso é que desejo falar aqui.

São tantas mortes e renascimentos que vivemos quando nos tornamos mães que fica difícil nos lembrar de quem éramos antes. Eu nem faço questão. Eu quase nem me lembro. Porque essa mulher de hoje é tão mais completa e segura. Tão mais feminina e masculina. Tão mais acolhedora com o que eu posso e o que eu não posso. E tão mais transparente com o que deve ou não deve ficar na minha vida.

Autoconhecimento na maternidade

Amo astrologia. Logo que meus pitocos nasceram, fiz o mapa astral dos dois. Porque há anos faço meu próprio mapa para entender meus questionamentos com meus pais. E como a vida poderia ser melhor. A vida é um tubo de ensaio. E eu quero testar. Quero aprender. E nesse laboratório entendi que, independente de quem eram meus pais, eu teria os questionamentos que tenho. As birras que tenho, as broncas que não consigo deixar de sentir. Estando eles corretos ou não. Não é pessoal. Diante disso, passei a percorrer caminhos de menos culpabilização do outro e mais sinceridade comigo. A vida é uma dança.

Entendi que, para meus filhos vivenciarem as experiências deles, preciso estar menos segura de mim e mais disposta a me descascar, a achar algo novo. Dentro. Para que eu possa ser espelho de uma pessoa coerente e não de uma mulher perfeita.

Por isso é que quando grito em casa e meu marido pede para eu não fazer isso na frente da Yael, faço questão de frisar que sou assim. E que ela terá de mim a minha verdade. Com meus gritos e meus pedidos de desculpa. Minha real aceitação de meus defeitos e minhas virtudes. Não quero ser exemplo de correção, mas de busca em vida por um ser mais verdadeiro.

Sou buscadora. Do que a ciência e do que a intuição podem me trazer. Em meu trabalho, entrevisto de cientistas a místicos para poder perguntar: a vida faz algum sentido? E se fizer, tem algum caminho correto a seguir? Ninguém ainda me respondeu com certeza.

É por isso que agora como um brigadeiro. Enquanto penso em maternidade. Enquanto penso em mim. Porque esse mundo nos traz tantas coisas boas, tanto prazer. E as pessoas insistem em negar tudo o que é bom na vida. Tira o açúcar, tira o glúten, tira o prazer. Mas não tira a ignorância de não saber escolher com parcimônia. De aprender a dizer sim quando se pode dizer sim. E não, quando o melhor é dizer não. Quer melhor caminho para educação do que esse? Em me educo enquanto esse educar é exemplo para meus pequenos. Quero aprender junto com meus filhos a ter prazer na vida. A não me cansar de indagar por que as coisas são como são. A não aceitar imposição de ninguém sem antes me questionar e entender o porquê das minhas escolhas.

Entrega ao real

Faço terapia. Há muitos anos. Gosto de Ayurveda, de Jung e de Yoga. Gosto de aprender com meu corpo. E com minha alma. Faço um diário de vida pra Yael desde que ela estava na barriga. Para Max, criei uma malinha em que guardo coisas importantes na vida dele: da primeira roupa a bilhetinhos recebidos de gente querida. São coleções de histórias.

É por isso que hoje sento aqui. Para falar com você sobre quais histórias queremos contar sobre nossas vidas. Sobre qual narrativa quero dar para cada maternidade, para minha trajetória como mulher neste mundo. Sobre como desconstruir um pouco este modelo da mulher que está superbem consigo, mesmo vivendo todos os abismos e todas as delícias de habitar um novo corpo-mãe. Isso não existe. Existe a vida. Eu quero falar sobre a vida. E a vida não tem lógica. A vida não tem nome. Nem padrões, nem fórmulas de bolo para estar mais magra, firme e segura no maternar.

A vida é um perigo. E viver pode ser uma aventura. A vida é para quem topar. E não tem manual. A maternidade é uma dessas peças fantásticas que o destino prega no caminho. Para mim, foi a experiência definitiva que me ajudou a ser mais real e pé no chão.

Eu te convido a estar comigo nesta viagem pra gente poder criar juntas uma nova história para essa mulher tão diferente que se questiona, mais do que nunca, sobre como ser mais real. Mais viva. Mais original. Menos dependente de conselhos ou de aprovação.

Está nas nossas mãos, diariamente, a resposta.

Qual história eu desejo criar?

A responsabilidade de viver essa resposta é absurda. Mas o prazer dessa aventura não se pode nem mesmo pronunciar.

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