Todos que chegam à minha casa logo descobrem seu lugar preferido: nossa brinquedoteca. Talvez eu saiba o porquê.
Decoração para mim sempre foi algo ligado ao afeto. Ao cuidado. Morar em um lugar que me inspire sempre foi prerrogativa na minha vida. Quando tinha 14 anos, decorei meu quarto com mapas antigos e objetos cor-de-rosa. Era lindo. Esse quarto voltou a ser minha casa aos 28 anos, quando me separei do meu primeiro marido e decidi me reorganizar internamente antes de partir para uma nova casa. Aqueles oito metros quadrados (acho que era isso) eram meu templo, que então enchi de budas e itens de madeira de demolição.
Por onde passo, sinto a obrigação e o amor de deixar um legado bonito. Minha casa precisa ser esse templo de cor e vida para que eu me sinta protegida e feliz. Se não for assim na minha casa, onde será? Poucas coisas me dão mais prazer e devoção do que criar um lugar bom para se viver. É a minha arte.
Caminhos da beleza, do ashram à brinquedoteca
Aprendi profundamente sobre o trabalho desinteressado numa de minhas vivências místicas. Foi durante os retiros com meu professor de vida Cristóvão de Oliveira que entrei em contato com a seva, ou karma yoga, ou simplesmente doação de uma hora por dia para limpar o ashram (centro onde faríamos os retiros). Geralmente, eu limpava o banheiro e o quarto. Não importava onde tinha que limpar. O importante era a devoção com que você fazia isso. Aprender a ter essa atenção.
Dos muitos aprendizados que tive com o Cris, esse é um dos que mais gosto. Estar presente em tudo o que faço. Com devoção.
Em todas as casas que moramos, criamos um espaço dedicado às crianças. Nossa “salinha de jogos”. E, nesta casa nova, onde estamos há seis meses, não foi diferente: montamos com total amor o local da casa em que passaríamos mais tempo com os pequenos e onde desejávamos que fosse o cantinho das nossas brincadeiras.
Não compramos brinquedos convencionais, desses que você encontra em grandes lojas. Isso não é filosofia de vida nem nada. É apenas algo muito natural em nós: não sentimos o impulso ou a vontade de gastar dinheiro nessas “Disneys” de consumo e plástico. Nossos filhos brincam, e muito, com brinquedos de todos os tipos. São, majoritariamente, brinquedos que ganhamos. Praticamente tudo é usado. Bonecas, carrinhos, jogos. São coisas de primas ou amigos que deixaram de usar e nos presentearam. E bingo: há também os presentes de aniversário.
Resolvi, então, que o que eu compraria seriam objetos que inspirassem tanto a brincadeira quanto o amor pelo lugar. Praticamente, a única coisa que compramos nova (na verdade, também ganhamos porque pedimos para a avó e o tio da Yael darem) foi a cozinha de madeira que, de longe, é o brinquedo que Yael mais ama e o brinquedo que ela mais brinca. É uma brincadeira de vida. Porque, com essa imitação do real de maneira divertida, ela entra em contato com uma realidade muito rica e colorida. A cozinha de madeira é nosso ponto de encontro desde que ela tem um ano e dois meses. Hoje, com três anos, a cozinha de madeira segue sendo seu brinquedo favorito.
Sem perceber, construímos uma identidade como uma família que deseja escrever suas histórias. Não apenas desembalar, viver a euforia, e jogar fora.
Nossa brinquedoteca é linda. Comprei um papel de parede de montanhas numa loja de papeis adesivos. Pedi para meu pintor colar. E pendurei na parede várias “obras de arte” que Yael produz na escola. Daqui a pouco, serão as obras do Max também. Ainda como decoração, dois pratinhos com os nomes de Yael e Max, desenhados pela Mari, uma linda mãe empreendedora que faz arte em porcelana.
Brinquedoteca para encontros e histórias
Acho que as peças têm que ter história. Nossa casa tem que ter história. Por que isso não deveria começar na infância? Mais uma vez, te digo: tudo o que faço é muito intuitivo, vem do meu coração. Só depois de pronto percebo que minha filosofia de vida está em cada detalhe do que criei.
Também ganhamos de presente uma oficina mecânica de madeira, das mesmas meninas que criaram a cozinha que Yael ama. E, para nossa surpresa, o nome da oficina é Max. Coincidentemente, o nome do nosso filhotinho mais novo. Yael brinca de cozinha e de oficina sem dar nomes aos bois: ela apenas se diverte.
Eu vejo a brincadeira como extensão de uma vida feliz. Respeitar o fato de que essas crianças também precisam de um espaço e um local de encontro nos move a pensar nesse cômodo dedicado só a elas. Não era pela decoração, era pelo encontro. Pelo respeito. Obviamente, elas brincam por toda a casa. Mas ali tem um espaço com o nome do brincar.
Amamos ver as crianças loucas para chegar em casa e correr para esse cantinho, que é o preferido dos amiguinhos também. Na brinquedoteca, assim como na vida, optamos por depositar nosso dinheiro em coisas que acreditamos. E compramos esses brinquedos porque acreditamos na maneira como eles foram pensados e construídos.
No nosso ponto de encontro, tem os brinquedos made in china que cumprem seu papel de uma forma lúdica, amorosa e certeira: como brinquedo e não como consumo. As bonecas já com os cabelos surrados tomam o café feito sempre na hora, na cozinha de madeira da Yael.
A mamãe e o papai se divertem junto com o irmãozinho e os amigos dela. A partir desses pequenos detalhes, de coração, criamos um espaço para que a cada dia mais histórias lindas a gente possa criar para lembrar dessa nossa infância.
Categorias: Petria Chaves
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