Algumas leitoras pediram. Pensei, pensei e decidi não vir aqui hoje conversar sobre como é conciliar a vida de mãe e profissional. Nem buscar uma fórmula, nem buscar um segredo. Eu vim aqui pensar na minha vida e tentar conversar sobre escolhas e poder. Isso serve para homens e mulheres. Mães e não mães. Por isso falo tanto das novas mulheres. Dessa mulher que está buscando sua integração a tal ponto que ela própria é homem, mulher, mãe, profissional, empreendedora, espiritualizada, pragmática, calculista e… poderosa.
Por isso hoje faz sentido falar sobre nossas escolhas.
Durante muitos anos, meu trabalho foi o meu alimento. Minha astróloga costumava dizer que eu morava no meu celular. Eu passava quase 24 horas conectada com a redação e com tudo que tivesse a ver com o meu trabalho. Eu tinha 27, 28 anos. Bem jovem, eu cheguei num lugar do qual eu me orgulhava profissionalmente. Sem comparação com nada ou ninguém, apenas levando em consideração o que eu mais amava fazer. Resumindo: eu fazia o que eu queria e ainda ganhava dinheiro para isso.
Quando conheci o Ariel, alguma coisa mudou na minha vida prática. Parecia que eu havia depositado um bolo de tempo numa poupança e havia chegado a hora de resgatar. Eu havia poupado minha vida pessoal e agora era hora de usar.
Eu tinha acabado de fazer 30 anos.
De uma hora pra outra, parecia que estava tudo certo e completo. Sem muita escolha ou racionalização, veio a gravidez da Yael. Na semana em que o teste deu positivo, fui promovida mais uma vez no trabalho a um dos cargos mais legais na rádio. Foi um dos períodos mais intensos da minha vida. Eram dois caminhos e uma hora isso ia bater à minha porta.
A gravidez, do ponto de vista físico, foi bem ruim para mim. Então, naturalmente, coloquei o pé no freio legal. Equilibrei os pratos e fiz o que pude. Mesmo assim, me sentia muito mal por isso. Queria pedir demissão, me livrar daquele mal estar. Me sentia devendo algo ao meu trabalho, ao meu chefe, me sentia a pior profissional do mundo. Eu não desconfiava que, na minha história, essa pausa não era apenas necessária como essencial para deixar uma nova Petria chegar.
Com Yael, a nova Petria chegou. Avassaladora. Já contei em outras colunas que morri para quem eu era. Para meu passado. Para o que eu pensava que ia ser meu futuro.
Passei quase oito meses longe da rádio na minha licença-maternidade. Como voltar para um lugar que eu já não conhecia mais, sendo eu agora uma pessoa tão diferente?
Escolhas: não é preciso abrir mão de nada pra ser feliz
O mesmo processo que aconteceu com o nascimento da Yael se intensificou à décima potência com o nascimento do Max. E me traz nesse lugar que estou agora.
Em nenhum momento eu quis que minhas escolhas subtraíssem nada da minha vida. Eu jamais quis escolher ou um ou outro. Eu sempre pensei que poderia somar. Ao mesmo tempo, precisei aprender a jogar o jogo da vida para entender o que exatamente meu momento estava me pedindo. E meu momento me pediu para conciliar. Aprender sobre balance, equilíbrio, caminho do meio. Aprender a trilhar a minha própria vida de outra maneira, menos impulsiva, mais inteligente, mais eficaz.
Como?
Essa resposta também tem a ver com aquela pergunta: onde eu quero chegar? Quando eu me fiz essa pergunta, percebi que eu estava exatamente onde eu queria estar. Não existia absolutamente nada que eu quisesse agora, nesse exato instante, que eu já não tivesse. E isso é muito forte de dizer.
É quase perigoso.
Me dei conta de uma tamanha plenitude de vida. E uma genuína gratidão. Por todo meu aprendizado, por toda minha história na empresa, por todos meus altos e baixos. Programas criados, ideias que me vi refletindo do mundo e sobre o mundo. Tudo o que eu tinha vivido ali passou como um filme na minha cabeça e, completamente cheia dessa gratidão, eu resolvi que precisava fazer pequenos ajustes. Pois uma nova vida potente dentro de mim também existia do lado de lá, de um outro lado que não era de produzir, mas de gestar. O lado profissional e a família fazem parte de uma mesma pessoa que quer o melhor dos mundos agora. Eu não quero esperar começar a viver somente quando eu me aposentar. Essa é diariamente a minha escolha.
Bati à porta de meus diretores para pensarmos um novo modelo de trabalho. Ouvi minha intuição, confiei e esse foi o meu norte. Deu certo.
Escolhi ter tudo e aprendi a esperar pelo tempo certo do que tem que acontecer. Aprendi nesse processo a ver meu adversário imediato como uma ponte para meu desejo. Ver a raiva que me alimenta como uma compulsão que deve ser trabalhada. Conciliar essa pessoa muitas vezes tão incoerente dentro de mim. Quando eu procurei me curar dentro, quando eu percebi e iluminei o que eu mesma dividia, quando aprendi a não ter medo de mim, tudo de fora fluiu amorosamente.
Sei e sinto que hoje vivo uma vida ainda mais plena e abundante. Tudo isso emergiu no processo de eu perceber quem era a Petria profissional e a Petria mãe e mulher.
Tudo veio à tona e acredito que essa não é uma história que tenha um fim. Jamais será uma história acabada. Essa é a história da vida. Uma história sobre o poder das minhas (ou nossas) escolhas, que é exercido diariamente. Com amor e potência, num exercício às vezes doído de sinceridade ou de aprender a ser sincero.
Vejo que a conciliação das minhas vidas partiu e parte de dentro de mim e das escolhas que eu realmente faço diariamente. O mundo de fora me responde como um holograma do que eu criei e reguei dentro do meu poderoso centro de desejo.
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