Petria Chaves

Uma infância de belezas – aflorando o potencial das crianças

Yael, filha de Petria Chaves, com a professoras deste ano. Foto: Acervo pessoal Petria Chaves.Essa semana foi daquelas para guardar na memória. Recebemos o relatório semestral das crianças no Maternal. Mas não é um relatório qualquer. Eles preparam um verdadeiro livro sobre nossos filhos. Diariamente, as morot (como são chamadas as professoras em hebraico) andam com um caderno nas mãos para anotar passagens e frases dos nossos filhos que, ao final do semestre, vão para esse livro maravilhoso sobre a vida dos pequenos na escola. É de uma delicadeza sem igual. No parquinho, no ateliê, na quadra de esportes e de ginástica. Todos os pais ficam embevecidos, emocionados em poder acompanhar um pouquinho desse momento tão particular que existe no primeiro mundinho da criança do qual não fazemos parte. Nesse quadrado, não entramos, mas as professoras permitem que possamos olhar pelo buraquinho da fechadura por alguns instantes.

E o que vemos por essa frestinha é maravilhoso.

Frases inteligentes, passagens de amizade, espanto com o desenvolvimento que nem imaginávamos. Por exemplo, há pais que relatam sobre crianças que não falam a mesma língua (por ser uma escola judaica, há alguns amiguinhos israelenses entre os brasileiros) e que inventaram um dialeto próprio para se comunicar. Eles têm 3 anos. É de impressionar.

Na escola, nos deparamos com esse primeiro momento de ruptura da nossa superproteção. Nesse momento tão delicado da nossa adaptação enquanto pais é um presente saber que, onde você não gerencia, também existe alguém com olhos amorosos e atentos ao desenvolvimento dos pequenos. É de arrepiar. Faz a gente acreditar na humanidade.

Falo hoje sobre esse livro, porque muita coisa está sintetizada ali. Coisas que você não vê noticiada nos jornais, mas que são as coisas mais importantes da vida. É a construção do cuidado, da atenção, do amor, da organização, da responsabilidade, da criatividade, da autoria e da excelência. No fazer, no olhar e no praticar.

Uma direção que conduz professores a esse lugar, está incentivando nesse mestre sua verdadeira maestria. Ensinar sobre a vida é muito mais importante do que o abc.

Certa vez, li sobre o bebê “Harvard”. E esse fetiche que muitos pais têm sobre a faculdade e o caminho que nossos filhos vão trilhar lá na frente. Filhos são quase como uma bolsa de valores para muitas famílias. E isso é um sinal da ansiedade em que vivemos. Esse texto que li era justamente um texto que falava sobre a importância de se implementar na criança até os 3 anos de idade os valores e os comandos que iriam culminar com esse homem e com essa mulher capazes de passarem nas melhores faculdades do mundo.

Mas ao contrário do que a maioria iria pensar, não é ensinando inglês, matemática ou português precocemente que fará com que o bebê chegue lá mais rápido.

Yael, filha de Petria Chaves. Foto: Acervo pessoal Petria Chaves.

É ensinando como amar e como ser amado.

 

Criança é potencialidade pura. E isso está sendo investigado pelos maiores neurocientistas e educadores da atualidade.

Ensinar sobre a excelência do ser é algo que eles vão levar para toda vida. A vida como uma escola dos deuses. Ajudarmos a criar esse espaço para a potencialidade infinita nesses pequenos semideuses. E lá, talvez, caiba espaço para eles seguirem rumo à Harvard. Se isso de verdade estiver no caminho de aprimoramento deles.

Hoje, essa é a minha principal preocupação. Ou… minha principal ocupação.

Ensinar e aprender a ensinar minha filha a ela ser ela mesma. Com a força e a potência da personalidade que ela tem. Aprender(mos) a lapidar seus defeitos e aprimorar(mos) suas qualidades. Mas isso está nos detalhes porque é de detalhes que a vida é construída. Desde valorizar seu cabelo natural, seu corpo natural, sua fala autêntica, seus pensamentos originais, sua postura individual, seu olhar para o mundo. Sua raiva, sua possessividade, sua amorosidade. Aceitar que esses defeitos existem e que podem ser o tempero de um ser integral desde que aprendamos juntos como lidar corretamente com esses impulsos, que são naturais, mas que devem ser conduzidos atentamente.

Definitivamente, esse não é o caminho mais fácil. Para isso, é preciso um olhar atento, muito presente e amoroso. É preciso calma e atitude. Um olhar trabalhado de pais e mães que se trabalham muito também para poder educar. Não é apenas deixar as crianças muito soltas ou atarefadas demais; o brincar livre ou o ensino master superintegral.

É uma arte entre cuidar e deixar viver.

Inclusive eu voltei para a terapia para poder me investigar e dar respostas para as constantes novas questões que a Yael me traz. Porque além de eu não ter as respostas (se é que elas existem) eu também penso que educar jamais é um processo encerrado em cada família. É uma troca constante entre diferentes olhares para o mundo e a nossa capacidade de filtrar todos esses olhares para usar o que de melhor se adequa à nossa própria vida.

Ou seja: a vida de um pai educador é uma verdadeira escola.

 

Sei que todos nós estamos nesta busca: do que fará melhor para nossos filhos. Numa espécie de projeção de nós mesmos e do que gostaríamos que tivesse sido melhor com a gente, na nossa própria infância.

Yael, filha de Petria Chaves, com a professora do ano passado. Foto: Acervo pessoal Petria Chaves.Na minha reflexão diária, hoje, realmente não me importo se minha filha já sabe os números ou ler as palavras. Não me importa em nada a comparação com outras crianças, inclusive. Saber que minha filha é conduzida por seres que praticam a excelência, o aprimoramento constante com amorosidade atenta e ativa é o que me dá a garantia de que ela está aprendendo o que deve ser aprendido nesse momento e levado como bagagem para o resto de sua vida.

Termino essa nossa conversa com meu trecho favorito do relatório da Yael neste semestre. Um presente que recebi sem nem mesmo esperar. A construção da beleza que também é percebida pelos outros e que é tão importante para mim. E pelo olhar atento de quem cuida de quem eu mais gosto de cuidar.

“Yael adora as aulas de música e participa delas com muita alegria e entusiasmo.

Quando conhecemos a obra de Vinicius de Moraes, comecei a cantar um trecho de Garota de Ipanema e, para minha surpresa, ela começou a me acompanhar cantando inteirinha! Que coisa linda! Já deu pra ver que a boa música já faz parte da vida dela em casa. Obrigada pela parceria.”

Como meu presente para você, meu(minha) leitor(a) dessa coluna de hoje, deixo a dica de um filme. Assistimos há pouco tempo, num daqueles dias em que ficamos zapeando pelo Netflix, e encontramos coisas legais.

O filme chama-se Innsaei.

Tem também no YouTube. É um documentário dirigido e produzido por uma ex-alta funcionária da ONU que vai investigar em várias partes do mundo a história da busca da alma, da ciência, da natureza e da criatividade. A diretora visitou também algumas escolas pelo mundo que estão elaborando programas de vanguarda na educação das crianças que são pequenos gênios. Crianças como as nossas. Esperando e ativando o aflorar do seu potencial.

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